A estratégia do atual governo parece contrariar todos os princípios e boas práticas de contratação externa de sistemas e tecnologias de informação (SI/TI). A gestão do outsorcing no Estado, suportada por algum “apoio espiritual” académico mal informado e deslumbrado pela ribalta política e mediática, está a seguir o caminho contrário ao que os maiores especialistas na gestão do outsourcing e que o próprio bom senso recomendam.
O Estado está a entregar e a centralizar em fornecedores e em produtos únicos sistemas de baixa especificidade de negócio (“pão com manteiga”) e em que existe muita oferta e diversidade de produtos e competências técnicas no mercado, como é o caso da gestão financeira, dos recursos humanos e dos recursos patrimoniais (ERP) e ainda da gestão documental, entre outros.
Esta entrega a fornecedores únicos de sistemas em que existe muita oferta e concorrência no mercado poderá ter uma redução de custos no curto prazo por razões de escala, mas conduz a médio e longo prazo a uma captura por parte dos fornecedores escolhidos e a uma dependência do Estado que irá com toda a certeza degenerar em custos finais muito mais elevados (TCO) e a uma perca de soberania a que nenhum país do mundo pode estar sujeito.
Dar o “pão com manteiga” a fornecedores únicos é um erro básico e de quem não sabe o que é gerir outsourcing. Trata-se de “commodities” ou de produtos de alto consumo em que se tem de apostar sobretudo em normas e mecanismos de interoperabilidade entre eles. Como recentemente recomendou Andrea di Maio do Gartner "Slow down on centralization. Re-empower agencies by focusing on commoditization and interoperability".
Bem basta os constrangimentos a que estamos sujeitos na dependência de maior longo prazo e no aumento de custos no outsorcing de sistemas que têm baixa oferta no mercado e de grande especificidade, como os sistemas fiscais, de segurança social, de justiça, de defesa e segurança interna, etc. Trata-se de “pratos gourmet” a que o Estado deverá ter a maior atenção, podendo nalguns casos reservar para si o controlo soberano ou até ter uma estratégia deliberada de insourcing com recursos técnicos e humanos próprios.
Esta quadro foi apresentado numa conferencia que efetuei há mais de 10 anos, e parece-me que está perfeitamente atualizado.
quinta-feira, dezembro 13, 2012
Será que a ´"Água" e o "Azeite" se podem misturar na AP?
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É incrível como a generalidade dos políticos de sucessivos
governos e até alguns académicos de referencia acreditam e propagam para a
sociedade que o cumprimento e o respeito pela lei, que deve orientar os valores
e a ação dos serviços públicos, não se mistura com a boa gestão, como se se
tratasse de água e azeite. Ou seja parece que na administração pública existe
uma incompatibilidade natural entre o “Princípio da Legalidade” e a “Boa
Gestão”.
Esta atitude fatalista e preconcebida baseada em crenças conduziram
o país a um descalabro institucional em que para se ser bom gestor na
administração pública se tem de ser “fora da lei”. A criação descontrolada de
institutos, agências, fundações e entidades empresariais é um testemunho desta
fuga à lei e aos mecanismos de controlo próprios de um Estado democrático.
Deixem-me usar uma metáfora, pois sou um alentejano que sabe
como a água e o azeite se podem misturar numa boa açorda se tivermos outros
ingredientes adequados como o alho e os coentros. Na cozinha mediterrânica esta
mistura saudável do azeite e da água é reconhecida em todo o mundo.
Também na administração pública é urgente acabar com este
preconceito e a crença de que não pode haver boa gestão com legalidade e que é
possível ter uma Governance que respeite os princípios do serviço público e da
democracia.
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