quarta-feira, janeiro 07, 2009

Magalhães versus OLPC ou consumo versus desenvolvimento


Os objectivos do Netbook Classmate (Magalães, HP, Asus, Acer, SanDisk, Samsung, etc.) e do OLPC XO (Negroponte) são diferentes.
O primeiro tem como objectivo adaptar um computador normal (preferencialmente em Windows XP) a uma dimensão mais reduzida, com características menos exigentes, para uma utilização simplificada (Objectivo comercial).
A plataforma do OLPC aposta mais no open-source, que poderá ser totalmente modificado pelas próprias crianças, mediante as suas necessidades pessoais/educativas (Objectivo de ajuda ao desenvolvimento).
Quando em 2005 estive na Índia a fazer uma conferência sobre “e-Government for the real world”, participei num painel sobre “rural PC”, onde se apresentaram alguns protótipos enquadrados no OLPC e onde a Microsoft também apresentou a sua estratégia de “democratização” dos computadores nos países em desenvolvimento (hoje sabemos qual é).
Portugal tentou conjugar no Magalhães os dois mundos (NetBook e OLPC) através da inclusão em dual boot do Windows XP e do Linux Caixa Mágica, mas existe uma profunda e genuína diferença entre estes dois caminhos: Por um lado concorre-se para maximizar o acesso ao consumo dependente e nalguns casos subsidiado (NetBook) e por outro lado pretende-se maximizar o acesso ao desenvolvimento solidário e sustentável (OLPC).
Neste mundo de globalização parece que vale tudo, mas para mim a ética e a dignidade humana ainda têm algum valor.
Nesta confusão toda, salva-se o projecto e-Escolinhas, assim descrito no site oficial:
"E-escolinha permitirá a cerca de 500.000 crianças do 1.° ciclo do ensino básico acederem aos computadores portáteis Magalhães. A iniciativa e-escolinha resulta de um conjunto de parcerias entre o Governo Português, a Intel, os principais operadores de telecomunicações – Optimus, TMN, Vodafone, Zon –, a Microsoft, a Caixa Mágica e as autarquias aderentes".
A iniciativa «e-escolinhas», é financiada pelo Fundo para a Sociedade de Informação, suportado pelas contrapartidas financeiras dadas pelos operadores móveis no âmbito da atribuição das licenças UMTS. As quatro operadoras que ganharam as licenças UMTS (tecnologia de terceira geração móvel) - Vodafone, TMN, Optimus e ONI Way, esta última entretanto extinta, - pagaram no conjunto cerca de 450 milhões de euros pelas licenças, mas assumiram junto do Governo compromissos da ordem dos 1.300 milhões de euros.
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PS: As notícias parecem contraditórias:
O Magalhães no Brasil, promovido pela PT através da Vivo, chamar-se-á Mobo, ou seja, trata-se simplesmente de um NetBook Eee PC da Asus, fabricado no Brasil pela empresa Positivo e vendido a 333 R$ (320 €).
Outra novidade que resultou da cerimónia de assinatura do segundo memorando de entendimento entre o Governo português e a Microsoft foram os nomes da Bélgica, Luxemburgo e Brasil, que assim se juntam aos já conhecidos Venezuela e Argentina, na manifestação de interesse em adquirir o portátil português fabricado pela JP Sá Couto.
O Magalhães também perderá o seu nome na Venezuela e terá o sistema operativo Canaima (baseado em Linux), criado pelo Centro Venezuelano de Tecnologias de Informação.

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